domingo, junho 1

Conflito à mesa

Uma guerra inusitada à volta do prato infantil está a arrefecer as relações de Pesseguido com a comunidade internacional. De um lado está a tradicional e rica cozinha pesseguesa, defendida acerrimamente pelo Avô Cantigas, que pranteia o abandono de um saudável hábito: a sopa. Do outro, está a papa de cereais refinados, comida menos equilibrada nutricionalmente mas de fácil confecção, imposta pelas grandes multinacionais e representada pela carismática Anita. A diplomacia pesseguesa já entrou em negociações secretas para apaziguar um conflito que desgastaria a frágil imagem externa de Pesseguido, que ainda não viu reconhecida a sua independência pela ONU. Quem já não se livra de um processo interposto pela Associação de Diabéticos de Pesseguido, sob a acusação de estar vendido aos obscuros interesses das multinacionais de papas, é o cantor e letrista José Insecto Pessegoura, autor não só da canção da Joana mas ainda do fungagá da bicharada, o que lhe valeu uma outra acção judicial desencadeada pela Sociedade Pesseguesa de Alergologia. Entretanto, o povo, temendo a privação de um bem essencial, montou várias barricadas pelas ruas, em defesa da sua sopa de cavalo cansado matinal.

sábado, maio 31

Loja de móveis destrona prozac

O primeiro-ministro José Pessecrates inaugurou a primeira fábrica-loja de móveis do grupo bárbaro Quideia em Pesseguido. Se antigamente o consumidor tinha de se dar ao trabalho de escolher os móveis numa loja e esperar que os fossem levar a casa, com a Quideia ele vai directamente à mata, serra uma árvore apropriada, corta-a em tiras e monta o móvel a seu gosto, de acordo com o livro de instruções em sueco. Este conceito inovador permitiu tirar da depressão centenas de pessegueses que antes se refastelavam no sofá ao fim de semana a ver o "Dança comigo" e que agora consagram o tempo a resolver quebra-cabeças de parafusos desemparelhados.

Rock in Charco já começou

Foi de arromba o primeiro dia do Rock in Charco em Pesseguido. A camone Amélia Adega embarcou uma pipa de vinho tinto do Ti Jaquim antes de entrar em palco, para ganhar coragem de enfrentar os cerca de cem mil jovens em transe que acorreram de todo o país e arrabaldes. Ernestina Pessegopes, educadora infantil e acompanhante de um grupo vindo da cerci de Castanheira de Pêra, referiu que "como os miúdos estão fechados todo o ano em call centers e em escritórios a brincar aos empregos, esta é uma oportunidade de fumarem uns charros e berrarem alto sem incomodarem ninguém". A propósito, a organização enjeita a acusação de que a baba rica em neurolépticos, opióides e pesticidas que escorre da face dos jovens contamine o solo envolvente ao charco, uma vez que instalou uma etar para depurar todos os excrementos produzidos por artistas e espectadores durante os cinco dias do evento. A terceira edição do Rock in Charco promete mais espectáculos memoráveis. Os pessegueses Ganzas e Socos, que actuam no terceiro dia, avisam não entregar os pontos na luta pelo maior nível de alcoolemia do festival, ainda mais porque, este ano, o maior rival, Jorge Pessegalma, continua internado numa clínica de desintoxicação e não pôde comparecer.

sexta-feira, maio 30

Maioria tem vida íntima satisfatória

De acordo com um inquérito realizado pela Associação de Voyeurismo de Pesseguido (AVP), os pessegueses estão satisfeitos com a sua vida íntima. Mais de dois terços dos homens confessa arrear mais de duas vezes por semana na mulher e apenas um indivíduo de toda a amostra nunca arreou, porque teve uma trombose e ficou paralizado dos dois braços ainda antes de casar. A AVP procurou ainda vasculhar se os actos eram praticados segundo as normas da ASAE, isto é, com cintos e chicotes imaculados e íntegros, e conferiu uma evolução reforçada pelas campanhas de sensibilização nos últimos anos: noventa por cento dos homens sóbrios já muda as fivelas do cinto após cada utilização e manda mesmo lavar se ensanguentado. Quanto às mulheres de Pesseguido, pode dizer-se que o mediatismo de Fátima Pessegopes permitiu o equilíbrio da flora intestinal e a regulação do trânsito intestinal após o consumo de iogurtes com bifidus, mas mais não se sabe, porque era a hora da novela.

Escalada do preço do combustível

O fardo de feno voltou ontem a ultrapassar a fasquia dos 150 pedregulhos, o valor mais elevado de sempre no mercado de Pesseguido. Manuel Pesseguinho, o ministro da economia, continua a recear que a oferta seja insuficiente para satisfazer as necessidades, particularmente no Inverno em que, além de ser o combustível das carroças puxadas por burros e mulas, é utilizado como acendalha das fogueiras. Perante a escalada de preços, a cooperativa de Pesseguido passou a utilizar nas tarefas agrícolas apenas veículos movidos por tracção humana, o que já fez disparar os custos de produção da batata. No entanto, a longo prazo o ministro, confiante, prevê que o poder de compra das famílias volte a aumentar, uma vez que as crianças presas ao arado deixam de gastar canetas e papel.

Pesseguido visto pelas nossas crianças

quinta-feira, maio 29

Vem aí o europeu de matraquilhos

Pesseguido está ao rubro com a entrada em campo da sua selecção no campeonato europeu de matraquilhos. As mercearias já vendem cachecóis e as televisões promovem a ídolos os jogadores que, caso ganhem, conquistarão o direito de emigrar. Não há nenhum pesseguês que não discuta em casa ou ao balcão da taberna as tácticas vitoriosas da equipa.

Pesseguido declara independência

A Junta de Salvação de Pesseguido declarou a independência de Pesseguido. Pesseguido é uma república. Os seus habitantes são pessegueses. A língua oficial de Pesseguido é o pesseguês saído do acordo ortográfico assinado em 2089 pelos países de Ática e Basileia e que dispensou os acentos e os ditongos que só complicavam a escrita ao Zé Carteiro, o único habitante letrado da aldeia, responsável pela elaboração de todas as cartas de amor e pelas falsas notificações das finanças. A moeda corrente é o pedregulho, que se divide em cem pedrinhas. O clima é temperado de Inverno e abafado na altura dos fogos (Maio a Setembro). A economia é sustentada pela agricultura de subsistência e pela exportação dos discos do toni pessegueira para o Luxemburgo, onde se concentra a diáspora pesseguesa.